quinta-feira, 21 de maio de 2020

As letras e eu (ou como nasce um profissional de letras)

O poema Biblioteca Verde (Carlos Drummond de Andrade) me fez viajar à infância quando conheci os primeiros livros, através do meu pai. Ele tinha uma coleção em percalina verde chamada “Biblioteca do Pensamento Vivo” com biografias de diversas personalidades da ciência, filosofia, política e religião. Também, havia uma coleção em percalina vermelha e letras douradas, com os clássicos de Julio Verne. Li muitos deles, alguns apenas folheei. Herdei todos, pelo amor às letras. Permanecem ali na estante, à espera.

Lembro quando minha mãe chegou com um volumoso livro de capa preta. Era um dicionário. Eu mal sabia ler, mas me apaixonei instantaneamente. Era uma edição bem completa, com lista de expressões em latim, pronomes de tratamento, numerais, coletivos de animais, entre outras maravilhas da nossa língua. Gostava de navegar por aquelas páginas, descobrindo coisas novas.

O primeiro clássico que li foi “O retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde, me apaixonei. Outro que me encantou demais foi “Cem anos de solidão” com o qual Grabriel García Marquez recebeu o Prêmio Nobel de Literatura e, sem dúvida, Dom Quixote de La Mancha, novela clássica de Miguel de Cervantes. Esses eram da Biblioteca Pública de Porto Alegre, com certeza um capítulo à parte nessa história, aquele prédio imponente, no coração da capital gaúcha.

Mais tarde, não sei como, chegou às minhas mãos “Viagem de um naturalista ao redor do mundo” de Charles Darwin, com suas notas sobre a viagem a bordo do navio Beagle, as quais o levariam à sua revolucionária Teoria da Origem das Espécies. Gosto como ele descreve as paisagens, fauna e flora, especialmente em sua estada no Rio de Janeiro em abril de 1832.

Depois mergulhei em diversos autores, brasileiros e estrangeiros, não cabem todos na memória, alguns até foram esquecidos, pela irrelevância do conteúdo.

Recentemente estive em uma biblioteca pública. A equipe estava se preparando para receber um grupo de crianças, se esmeravam na arrumação para que elas se encantassem com aquele universo. Fiquei feliz e desejei que cada uma delas pudesse ser cativada, como um dia eu também fui, pelos livros e pela magia das letras. 

Texto adaptado de 2010. Disciplina: INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS. Curso: Letras – Espanhol – UFPel.

21 de maio, dia do profissional de letras. 

domingo, 17 de maio de 2020

Resenha: Hebe - a estrela do Brasil

O filme Hebe - a estrela do Brasil (2019) é uma ficção, não uma biografia, porém atravessa a trajetória da famosa apresentadora brasileira em um recorte histórico do país na década de 80 durante a redemocratização, após a ditadura militar. 

Andréa Beltrão em uma interpretação espetacular apresenta Hebe Camargo com força, alegria e conflitos pessoais.
Figurino, cabelo e maquiagem primorosos e dignos da estrela popular que ela foi no Brasil.

Há os dilemas pessoais da apresentadora com o marido Lélio, ciumento, em um relacionamento tóxico, que culminaram na separação do casal e a solidão do filho Marcelo, que emergem o paradoxo do sucesso profissional com as mazelas familiares.

O filme se concentra na transição da carreira de Hebe da rede Bandeirantes, cuja saída se deu pela interferência da censura, para o SBT, emissora na qual ela trabalhava quando se envolveu em um escândalo político em decorrência de suas opiniões sobre a corrupção, a inflação e a defesa das minorias, enquanto em contradição recebia Paulo Maluf na ceia natalina.

Há cenas emocionantes com o seu cabeleireiro Carluxo, vítima da AIDS. Também momentos hilários com Dercy Gonçalves e Roberta Close. 
Outros personagens famosos apresentados na narrativa são Roberto Carlos, Chacrinha e até Menudos em uma cena constrangedora de Hebe falando em Portunhol. 

O filme mostra um pálido retrato da desigualdade do Brasil nos anos 80, mesmo assim nos traz reflexões necessárias sobre liberdade e democracia, temas que são caros no Brasil atual.