terça-feira, 17 de maio de 2016

Viver é a melhor solução: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo*


Há momentos na vida em que muitos de nós ficamos tristes e decepcionados.
Essa situação é muito comum. Quantas pessoas já sofreram com amor não correspondido?  Muitas, com certeza. Já pensaram se todas desistissem de viver, quantas pessoas teríamos no mundo? A capacidade de adaptação e superação é uma característica da evolução humana.
 
O silêncio sobre o suicídio só agrava a situação. Informação pode salvar vidas.
Esse é o objetivo de pensarmos hoje sobre esse assunto. Em 2014 a OMS - Organização Mundial da Saúde divulgou um dos mais importantes relatórios sobre a prevenção ao suicídio no mundo.
 
A ciência que estuda esse assunto é a suicidologia. Esses pesquisadores afirmam que 90% dos suicídios estão associados a doenças mentais que tem diagnóstico e tratamento. Isto é, de cada 10 suicídios, 9 podem ser evitados! São 2.200 casos de suicídio por dia no mundo. Média de 1 suicídio a cada 40 segundos. Se 90% podem ser evitados, quantas pessoas podem ser salvas por dia?
 
Conhecer os fatores de risco e as redes de proteção é muito importante para a prevenção ao suicídio. Não é fácil explicar porque há tantos casos de atentados contra a própria vida no mundo. O comportamento suicida é complexo e está associado a diferentes causas, tais como pessoais, sociais, culturais, biológicas e ambientais. Cada suicídio é uma tragédia que afeta família, amigos e comunidade. 
 
O relatório da OMS mostra que as maiores taxas de suicídio estão entre os idosos acima de 70 anos e os jovens entre 15 e 29 anos. E quais são as maiores causas de morte entre os jovens? 1º lugar: acidentes de trânsito; 2º lugar: suicídio. O relatório também mostra que são os homens que se suicidam mais que as mulheres. 
 
Para cada pessoa que tenta se suicidar, há 20 tentativas. São 19 pessoas que sobrevivem, mas podem ficar com problemas de saúde ou que podem tentar o suicídio novamente.  Já pensaram sobre isso? Calcula-se que são  44 mil tentativas por dia no mundo, 1 a cada 2 segundos. E no Brasil como são esses números? O Brasil está em 8º lugar em números absolutos de morte por suicídio no ranking mundial.
 
Em 2014 foi divulgado no Brasil o "Mapa da Violência" considerando os dados oficiais do Ministério da Saúde entre os anos de 2002 e 2012. Esse estudo revela números assustadores. Nesse período de 10 anos, as taxas de suicídio aumentaram muito mais do que as taxas de outras mortes no Brasil. Os números de suicídios registrados oficialmente subiram 33% e se mostraram maiores que o aumento nas taxas de acidentes de trânsito com 24% e homicídios em torno de 3%. Nesse mesmo período o aumento da taxa de nascimentos no Brasil foi de 11%.
 
Considerando apenas os casos registrados em 2012 o ranking de suicídio por estado no Brasil é: 1º lugar Rio Grande do Sul; 2º lugar Santa Catarina e 3º lugar: Mato Grosso do Sul. Há estudos específicos tentando identificar as razões dos altos índices de suicídio no RS que apontam para algumas conclusões: o uso de pesticidas (agrotóxicos) nas lavouras, a influência cultural dos imigrantes e outras características culturais.
 
Como podemos ver os dados revelam um grande problema que é considerado caso de saúde pública no Brasil e no mundo. O que todos esses números nos dizem? O que podemos fazer? Como prevenir? Há muito o que ser feito e é preciso fazer rápido. Para isso precisamos conhecer os fatores de risco e as redes de proteção. 
 
Além da relação do suicídio com os transtornos mentais, o uso de álcool e outras drogas, também há os fatores pessoais, sociais, biológicos e culturais para os quais devemos ficar atentos. São situações e comportamentos que podem aumentar o risco de suicídio. 

Fatores de risco patológicos:
Como já vimos 90% dos casos de suicídios relacionados com doenças podem ser identificados e tratados. As causas mais comuns são: depressão (36%), dependência de álcool e outras drogas (23%) , doenças mentais como esquizofrenia, bipolaridade entre outros (37%) e outras doenças mentais não diagnosticadas (4%). Buscar o tratamento médico é a solução para evitar problemas mais graves.
 
Fatores de risco pessoais:
Um fator de risco importante é o abalo psicológico com a morte de pessoas queridas. É preciso entender que é natural ficar triste diante da morte e que o período de luto é importante para a aceitação da ausência daquela pessoa. Cada um de nós tem o seu tempo é verdade, mas essa tristeza não pode se tornar parte da vida. Procurar ajuda de psicólogos e de outras pessoas faz parte de uma atitude saudável.

Fatores de risco da adolescência: 
Com os jovens ainda devem ser considerados os conflitos próprios da idade que podem causar angústia, como a escolha de uma profissão, o vestibular, a entrevista de emprego, sexualidade, entre outros. São questões que poderão ser superadas com calma e ajuda de amigos, família, escola e serviços públicos.

Fatores de risco sociais:
Também, outros comportamentos de alguns jovens em viver mais tempo dedicado aos jogos eletrônicos no celular ou videogame do que em atividades com os colegas de escola, amigos e familiares. Essas atitudes podem levar ao sentimento de solidão, problemas de relacionamento e conflitos, que são fatore de risco. Encontrar o equilíbrio entre atividades individuais e coletivas é a melhor maneira para uma vida feliz.

Fatores biológicos:
Não existe uma pessoa igual a outra. Nem os gêmeos. Cada um de nós é diferente de alguma forma que nos torna únicos. Algumas pessoas tem deficiências que podem ser vistas. Outras pessoas tem deficiências ocultas. Todos tem muito valor e podem buscar a oportunidade de ser cada dia melhor. Aceitar e respeitar as diferenças é fundamental para a convivência harmoniosa na família e na sociedade.

Fatores culturais:
Bullyng, machismo, homofobia e outros preconceitos que podem ocasionar violências físicas e psicológicas aumentam o risco para o suicídio. Quem é alvo de preconceito e violência pode sofrer e ficar frágil emocionalmente. Desamparadas e desprotegidas essas pessoas são mais vulneráveis a tentativas de suicídio. Políticas públicas de proteção existem para denunciar casos de abuso e risco de vida. 

Redes de proteção:
Família, escola, amigos, profissionais de saúde, serviços públicos de atenção especializada.
CVV: 141 
CVV RS: 188 
Disque 100 – Secretaria de Direitos Humanos
Disque 180 – Secretaria de Políticas para as Mulheres

Aconteceu na cerimônia de entrega do Oscar 2015 o escritor e produtor Graham Moore ao receber o prêmio pelo filme “O jogo da imitação” fez uma revelação, ele disse: “quando eu tinha 16 anos, tentei me matar porque me sentia estranho, me sentia diferente. E agora eu estou aqui. Gostaria de dedicar esse momento para outros garotos  que se sentem estranhos ou diferentes. Continuem estranhos. Continuem diferentes. Quando chegar à sua vez e você permanecer firme, por favor, passe essa mesma mensagem para outras pessoas.”

Cuidar da qualidade dos nossos pensamentos e sentimentos, das leituras, dos filmes, enfim, buscar os interesses mais sadios tanto quanto possível. Evoluir é trabalho pessoal e intransferível. Aprendemos com amor, mas também aprendemos com a dor e assim podemos ficar mais fortes e sábios para superar outros desafios que virão.

Ocupar o tempo livre com atividades úteis, de preferência ajudando outras pessoas em instituições de caridade é um ótimo remédio para a alma, melhora o humor e autoestima. Nessa atividade social podemos nos distanciar de nós mesmos para nos conectar com as necessidades dos outros e conhecer outras histórias de vida real.

O mais importante é perceber que nenhum sofrimento dura para sempre. Por mais assustadora que seja a tempestade, ela sempre passa, não é mesmo? Se o dia de hoje te parece desagradável e angustiante, espera e confia.
A melhor saída é a vida. 



*Texto baseado no livro “Viver é a melhor opção: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo. André Trigueiro. 2ª ed. 2015.